quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

48 horas sem postagem

Aquele "a" não tem crase, muito obrigado à todos pelas correções! Como vocês podem notar eu entendi tudo direitinho! ;)

Bom, sei que ninguém deu falta, mas nas últimas 48 horas eu nada postei no blog! Não, não é desleixo, muito menos preguiça! Faz parte de um tratamento de choque que eu estou propondo a mim mesmo! Com qual intuito? Pra mostrar para aquele psicólogo FDP que eu não sou viciado em internet! E que, portanto, não preciso ser encaminhado a um psiquiatra! Dada a introdução, ai vai mais um causo:

Duas horas após ter saído da frente do meu computador, no dia 12 de Janeiro, comecei a sentir um grande vazio. Sabe como é? Uma sensação de aleijamento! Racionalizei este sentimento de perda e conclui que realmente era falta de meu computador! Mesmo após aquela conclusão, não me deixei esmorecer.

"Eu não sou viciado em computador!"

Era a frase que eu fiquei repetindo por algumas horas. Fui me deitar!

"Isso que eu estou sentindo não pode ser a falta de um relés computador!"

Revirei-me na cama, mas não conseguia dormir! Tomei uns dois calmantes! Enfim, dormi! --- Lá estou eu no ITA, feliz, em frente ao meu computador, quando, de forma inusitada, um homem, alto, com cabelos brancos e um falar enrolado, surge com um martelo e acerta muitas pancadas em meu notebook! O pobrezinho ficou simplesmente em pedaços! Em meio ao meu desespero com o ocorrido, tomo a peça mais pontiaguda que encontro em minha mesa (uma caneta Bic) e furo aquele desgraçado de português mal falado. Em seguida tomo o martelo de sua mão e repito nele o que ele havia feito em meu precioso! --- Em meio aquele sanguinolento episódio abro os olhos e vejo o lustre da sala da casa de minha mãe. Este é o único sonho que me recordo naquela tarde de sono!

"Acho que preciso de ajuda!" Foi o que eu pensei assim que eu acordei!

"Já sei, vou viajar!" E o fiz, e muito bem acompanhado de uma bela, e eu disse bela colaboradora de meu blog, fui a São Francisco Chavier! Foi tudo muito bom... O ambiente somado ao grande afeto daquela moça fez com que minha ansiedade passasse...

Ah sim, uma informação relevante, estivemos no sítio de meu grande amigo Luiz Fernando Veríssimo! Sim, ele tem um sítio em São Francisco Chavier! Alias, ele esta bastante animado com a idéia do blog. Pediu que eu postasse mais um de seus textos, não esta relacionado com a idéia do blog, mas é muito bom! Dêem uma olhadinha! Mais tarde eu volto para contar a história do amigo Fabrício com a Juju do pânico na tv...



Defenestração


"Certas palavras tem o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deviam criar falácias em todas as suas variedades. A falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Aonde eles chegassem, tudo se complicaria.

-Os hermeneutas estao chegando!

-Ih, agora e que ninguém vai entender mais nada…

Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido obvío. Ants disso, tudo parecia ter um sentido oculto.

-Alô…

-O que é que você quer dizer com isso?

Traquinagem devia ser uma peça mecânica.

-Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascina tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

-Defenestras?

A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas…Ah, algumas defenestravam.

Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.

Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? “Nestes termos, pede defenestração…” Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usada uma ou outra vez, como em:

-Aquele é um defenestrado.

Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.

Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E ai está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “defenestration”. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela. Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem um nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração? Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso. Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.

-Les defenestrations. Devem ser proibidas.

-Sim; monsieur le Ministre.

-São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.

-Sim, monsieur le Ministre.

-Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até dovertido. Mas daí pra cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar pra cima devem ter um cartaz “Interdit de defenestrer”. Os trangressores serão multados. Os reincidentes serão presos.

Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convidado com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.

-É esta estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor…

-Hmm. O impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar- diz o analista, afastando-se da janela.

Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculhante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.

Na lua-de-mel, numa suíte matrimornial no 17º andar.

-Querida…

-Mmmm?

-Há uma coisa que eu preciso lhe dizer…

-Fala, amor.

-Sou um defenestrador.

E anoiva, em sua inocência, caminha para a cama:

-Estou pronta para experimentar tudo com você. Tudo!

Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponts para cima e balbucia:

-Fui defenestrado… Alguém comenta:

-Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela!

Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair e porque resisti".

Luiz Fernando Veríssimo

Um comentário:

  1. Vc não vai para a psiquiatria só pq precisa acessar a net. Nenhum psicólogo normal faria isso! Qtas sessões já teve com ele? Aliás, ele existe mesmo? rsrsrsrs. Cara, continue com isso. As crônicas são muito legais! Só uma coisa: CALMA! rsrs. Abração!

    Monfreds

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