segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O homem que sabia demais

Terceiro dia e já me falta criatividade para escrever! Sim, porque é preciso criatividade para postar em um blog que conta à respeito de pseudoverdades! Mas já consegui um forte apoio... O apoio de Luiz Fernando Veríssimo, acreditem se quiser! Vou postar aqui um texto deste meu grande amigo! Vale a pena ler:

O homem que sabia demais

Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:
· Eu sei de tudo.
Depois de um silêncio, o outro disse:
· Como é que você soube?
· Não interessa. Sei de tudo.
· Me faz um favor. Não espalha.
· Vou pensar.
· Por amor de Deus.
· Está bem. Mas olhe lá, hein?
Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.
· Sei de tudo.
· Co-como?
· Sei de tudo.
· Tudo o quê?
· Você sabe.
· Mas é impossível. Como é que você descobriu?
A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:
· Alguém mais sabe?
Outras se tornavam agressivas:
· Está bem, você sabe. E daí?
· Daí, nada. Só queria que você soubesse que eu sei.
· Se você contar pra alguém, eu...
· Depende de você.
· De mim, como?
· Se você andar na linha eu não conto.
· Certo.
Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.
· Eu sei de tudo.
· -Tudo o quê? Você sabe.
· Não sei. O que é que você sabe?
· Não se faça de inocente.
· Mas eu realmente não sei.
· Vem com essa.
· Você não sabe de nada.
· Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é?
· Não existe nada.
· Olha que eu vou espalhar...
· Pode espalhar que é mentira.
· Como é que você sabe o que eu vou espalhar?
· Qualquer coisa que você espalhar será mentira.
· Está bem. Vou espalhar.
Mas dali a pouco veio um telefonema.
· Escute, estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.
· Aquilo o quê?
· -Você sabe.
Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurava:
· Você contou para alguém?
· Ainda não.
· Puxa. Obrigado.
Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.
· Porque eu? - quis saber.
· A posição é de muita responsabilidade - disse o amigo. - Recomendei você.
· Porquê?
· Pela sua discrição.
Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca pra falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:
· Sei de tudo.
· Co-como?
· Sei de tudo.
· Tudo o quê?
· Você sabe.
Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota. Os vizinhos contam que numa noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:
-Era brincadeira!Era brincadeira!
Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.
SABIA DEMAIS.

3 comentários:

  1. Muito bem Kzar,
    este blog está demais...lolol...no entanto ainda não consegui saber com certeza o que está expressão "está demais" significa. Mas continua, acredito que muita gente vai se identificar com suas "verdades elaboradas", não é meus amigos???? lololol

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  2. Grande história que me lembrou a sétima série!

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  3. Muito bacana. Li esta crônica há quase 40 anos, procurei pra mandar pra uma pessoa que tá precisando de conselho. Achei teu blog, obrigado.

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